Brasília, 17 de maio de 2024 — O estudo “Muito Além do Tempo de Tela”, conduzido pelo Conselho Digital do Brasil, revelou que o tempo de tela é apenas um entre 15 fatores que influenciam a saúde mental de crianças e adolescentes nas redes sociais. Liderado pelo pesquisador Rafael Leite, especialista em políticas públicas, o estudo fez uma revisão abrangente da literatura científica sobre o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens e analisou mais de 1000 estudos nacionais e internacionais através de 8 meta-análises.
Rafael Leite, que já atuou como consultor no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no governo do Chile, e foi consultor na Fundação Lemann e no Vetor Brasil, apontou que “as redes sociais são parte integral da vida dos jovens“. “Mas existem tanto benefícios quanto riscos associados ao uso dessas plataformas”, diz Rafael. O especialista destacou que o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens não é algo tão simples. “É complexo e multifacetado.”
A pesquisa revisou a literatura científica para entender melhor a relação entre jovens e redes sociais. Alguns estudos analisados apontaram para potenciais efeitos negativos, como aumento de depressão; outros indicam possíveis benefícios, como melhoria da autoestima – especialmente em interações positivas e grupos de apoio online. Mas, o principal achado do estudo aponta para a diversidade de fatores que podem moderar ou intensificar os efeitos“, disse Rafael.
Rafael se refere aos fatores mediadores, aqueles que explicam como e por que as redes sociais afetam a saúde mental – por exemplo, a qualidade do sono ou a frequência de uso. E também fatores moderadores, aqueles que alteram a intensidade ou direção do impacto das redes sociais na saúde mental das crianças e adolescentes – como idade, gênero, e ambiente familiar. Estes fatores, quando compreendidos e gerenciados adequadamente, podem ajudar a criar um ambiente digital mais saudável para crianças e adolescentes, equilibrando os benefícios e riscos associados ao uso das redes sociais.
O estudo também indica recomendações para políticas públicas. Embora aponte que as plataformas já possuem ferramentas para controle e supervisão parental, Rafael acredita que elas devem ser melhor divulgadas. Além disso, na visão do pesquisador, “políticas públicas devem ser baseadas em evidências, adaptáveis e colaborativas“. Para Leite, não adianta acreditar que as plataformas ou o governo terão uma solução mágica: “esse é um tema sensível que apenas pode ser resolvido com a responsabilidade compartilhada, envolvendo as famílias, escolas e a sociedade como um todo”.
Outro ponto de alerta trazido por Rafael diz quanto a necessidade de abordagens diferentes conforme a experiência dos jovens. Segundo a pesquisa, não podemos tratar crianças e adolescentes da mesma forma. Exigir controle parental para um garoto de 17 anos igual ao de uma criança de 9 anos não é benéfico para o próprio amadurecimento do jovem.” Dar aos pais o total acesso às redes de um adolescente que diverge dos pais em matéria religiosa ou de orientação sexual pode ter o efeito contrário ao pretendido, diz Leite.
Por fim, Rafael conclui que “precisamos evoluir no assunto com mais estudos longitudinais e experimentais para entender melhor os efeitos ao longo do tempo e em diferentes contextos.” “Proteger a saúde mental dos jovens passa por entender como esses fatores influenciam o uso das redes sociais e suas consequências. Enquanto isso, cabe reforçar o papel das famílias, comunidades, escolas, produtores de conteúdo e das plataformas, muitas das quais já estão ativamente envolvidas na formulação de soluções”, conclui o especialista.
Fatores Mediadores: explicam como e por que as redes sociais afetam a saúde mental
Fator | Descrição |
Qualidade do Sono | Influencia humor e função cognitiva. Adolescentes que usam redes sociais à noite podem ter sono interrompido, afetando negativamente sua saúde mental. |
Suporte Social Online | Pode mitigar efeitos negativos. Grupos de apoio e interações positivas online podem melhorar a autoestima e fornecer suporte emocional. |
Identidade Online | Influencia autoimagem e relações sociais. A forma como os jovens se apresentam online pode afetar sua autoimagem e autoestima. |
Frequência de Uso | Impacta a exposição a fatores de risco. Uso excessivo pode aumentar a exposição a conteúdos nocivos e reduzir o tempo para atividades saudáveis. |
Exposição a Conteúdo Sensível | Aumenta o risco de problemas. Conteúdos relacionados a violência ou autoimagem negativa podem ser particularmente prejudiciais. |
Fatores Moderadores: alteram a intensidade ou direção do impacto das redes sociais
Fator | Descrição |
Autoeficácia | Percepção de controle sobre eventos pessoais. Jovens com alta autoeficácia lidam melhor com experiências negativas online. |
Ambiente Familiar | Oferece suporte emocional. Famílias que dialogam sobre o uso da internet podem ajudar a mitigar efeitos negativos. |
Resiliência Individual | Capacidade de lidar com desafios. Jovens resilientes são mais capazes de lidar com o estresse causado por interações online negativas. |
Idade | Respostas variam conforme a faixa etária. Adolescentes mais novos podem ser mais vulneráveis aos impactos negativos. |
Gênero | Diferentes interações e consumo de conteúdo. Meninas, por exemplo, podem ser mais afetadas por comparações sociais online. |
Orientação Sexual | Impacta suporte e exposição a mensagens. Jovens LGBTQ+ podem encontrar tanto apoio quanto discriminação online. |
Diversidade de Atividades | Alternar entre uso ativo/passivo e offline. Participar de atividades offline balanceia os efeitos negativos do uso de redes sociais. |
Hábitos Alimentares e Substâncias | Influenciam reações emocionais/cognitivas. Alimentação inadequada e uso de substâncias podem agravar os efeitos negativos. |
Experiências com Bullying | Intensificam reações ao cyberbullying. Jovens com histórico de bullying offline são mais vulneráveis online. |
Prevenção e Apoio Integrado | Mitigam impactos negativos. Programas de prevenção e suporte podem ajudar a reduzir os efeitos adversos. |
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